A tendência global de virtualização das redes de telecomunicações em tecnologia de 5G está impulsionando a indústria digital. Computação em nuvem (cloud computation) e na ponta (edge computation) serão utilizadas nas redes de telecomunicações 5G, além do avanço da chamada internet das coisas (IoT), gera oportunidades para a indústria de software. Por esse motivo, a indústria de telecomunicações começa a compreender que pode perder espaço e passa a investir em hub tecnológicos.
As empresas de tecnologias estão muito mais capitalizadas do que as de telecomunicações e por isso estas buscam alianças estratégicas com a indústria de tecnologias e software. “Como disse um dos investidores em tecnologia Marc Andreessen ‘the software is eaten the world’. O principal desafio para as empresas de telecomunicações agora é monetizar as redes de 5G”, explica o advogado e consultor na área do Direito Regulatório da Comunicação, com foco em infraestruturas, tecnologias e mídias, Ericson Scorsim. Ele é autor do livro “Jogo Geopolítico e Tecnologias de Comunicações 5G: Estados Unidos e China – Análise do impacto no Brasil e os desafios, riscos e oportunidades”.
O ecossistema de 5G global é integrado por empresas de telecomunicações, indústria de semicondutores, indústria do software, empresas de tecnologias, empresas de computação em nuvem, empresas de computação na borda, fundos de investimentos, governos, instituições de pesquisa, mídia especializada, organizações internacionais definidoras de padrões, entre outros.
Na disputa por esse mercado, estão dois gigantes: Estados Unidos e China. Essa concorrência comercial agrega questões geopolíticas e geoeconômicas associadas à tecnologia de 5G. Para obter superioridade, Estados Unidos trava uma guerra comercial com empresas chinesas, principalmente a Huawei, líder global em tecnologia 5G. O especialista explica que a decisão do governo norte-americano de restringir o comércio para a China influenciou o governo da Suécia a também excluir a Huawei do seu mercado. A Huawei questionou a decisão do governo sueco perante a Câmara de Arbitragem do Banco Mundial.
Diversamente, na União Europeia, existe o financiamento público à tecnologia de 5G, com a formatação de cluster empresariais, principalmente na indústria. Na União Europeia não houve a exclusão formal da Huawei. Além disto, aprovou um conjunto de medidas para auxiliar na recuperação da Itália, e especialmente para o desenvolvimento da tecnologia 5G.
É esse cenário geopolítico em torno da tecnologia 5G que Scorsim analisa em seu livro. Ele expõe como estão organizadas as empresas da tecnologia digital, quais os quadros regulatórios estão sendo discutidos para impulsionar, ou restringir a produção e comércio de produtos (como semicondutores), além da movimentação que telefônicas fazem para não ficar de fora desse amplo mercado.
Na Europa, há os denominados hubs tecnológicos espalhados por diversos países, que incluem as telefônicas. É o caso da Suécia e Espanha, nos quais as telecom se juntaram à indústria de software para se capitalizarem. “As empresas de telecomunicações estão buscando participar do ecossistema do 5G como um todo para não perder o jogo para a indústria do software e buscar novas fontes para rentabilização dos custos de investimentos no 5G. O risco é a indústria do software abocanhar a indústria de telecomunicações. Afina, os aplicativos são dominantes e utilizam a infraestrutura de empresas de telecomunicações”, explica Ericson Scorsim.
A infraestrutura de 5G tem o potencial para beneficiar diversos setores econômicos: agricultura, mineração, óleo e gás, indústria automobilística, medicina e saúde, educação, mídia e entretenimento, jogos, transportes e logística, portos e aeroportos, energia, cidades inteligentes, segurança pública, entre outros. Ganhará quem estiver preparado para entrar com tudo neste mercado.
No Brasil, um dos principais desafios para o florescimento do ecossistema de 5G é a qualificação da força de trabalho para atuar com esta nova tecnologia. Aqui, há atualmente a demanda por mais de 500 mil) de profissionais nas áreas de tecnologia. “Um dos desafios do Brasil é qualificar sua força de trabalho para garantir a competividade no País a expansão das infraestruturas de conectividade digital. Além disso, o governo precisa dar incentivos para que a indústria digital invista em plantas fabris no país e, dessa forma, passamos a ser um player competitivo neste amplo setor do mercado”, pontua o autor.
*Ericson Scorsim é advogado e consultor em Direito do Estado, com foco no Direito Regulatório da Comunicação, nas áreas de tecnologias, mídias e telecomunicações.
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