O estudo das metodologias ágeis – incluindo o scrum – já é bastante conhecido no mundo da tecnologia, especialmente no desenvolvimento de software. Como engloba um conjunto muito amplo de valores, princípios e práticas, o interesse pela adoção da cultura ágil foi ganhando espaço e se expandiu por todas as áreas corporativas, em companhias dos mais diversos setores, com a promessa de entregas mais rápidas e eficientes, transparência nas etapas de planejamento e execução, engajamento das equipes, etc. A literatura sobre scrum e metodologias ágeis é bastante extensa para quem quer se embrenhar nesse mundo onde, na teoria, tudo parece perfeito.
Para se ter uma ideia de como o scrum e as metodologias ágeis poderiam ser úteis no âmbito dos negócios, de acordo com o Standish Group, apenas 29% dos projetos de TI são concluídos com êxito. O Gartner reforça essa problemática, apontando que 70% dos projetos falham no cumprimento de cronograma, custos e metas de qualidade, e 50% são executados acima do orçamento.
Então, adotar metodologias ágeis seria a solução perfeita, certo? Errado! Digo isso porque o scrum e as metodologias ágeis mexem com a cultura, os valores e as crenças da organização. E transformação cultural não é algo que se faça da noite para o dia, exigindo muita disposição, quebra de paradigmas e o entendimento de que, para funcionar de fato, o scrum vai alterar estruturas de “poder” e hierarquia dentro da empresa. É por isso que o scrum tem uma grande aderência ao mundo das startups, que já nascem sem as amarras e os processos engessados que existem em muitas grandes empresas tradicionais.
A jornada: saindo das metodologias tradicionais e partindo para as ágeis – Comecei a trilhar o caminho do scrum em 2016, na Rimini Street, quando vi um dos líderes globais da companhia apresentando o tema nos EUA. Quis então entender como poderíamos implementar essa metodologia de modo mais concreto – e já de imediato – no Brasil. Esses contatos iniciais com o scrum foram nos mostrando como as metodologias usadas até então poderiam ser aprimoradas para responder aos desafios da realidade do mercado brasileiro com ainda mais agilidade e assertividade, sobretudo em projetos de adequação e conformidade fiscal.
O fato de os clientes do Brasil terem que lidar com nossa gigantesca complexidade tributária desafiou a equipe de profissionais brasileiros da Rimini Street a ser proativa na busca por soluções inovadoras para as dores do mercado, colocando o Brasil em uma posição de protagonismo na defesa e posterior adoção do scrum, pois realmente precisávamos de mais liberdade, criatividade, autonomia e flexibilidade na resolução de problemas.
A proposta foi dando certo e se consolidando e, em 2018, me tornei evangelista de metodologias ágeis na Rimini Street, com a operação Brasil “exportando” a todos os outros mercados a mentalidade que estávamos adotando por aqui.
Scrum na prática – Desde que trouxemos para a Rimini Street a iniciativa de adotarmos o scrum em nossos serviços, começamos a estabelecer reuniões diárias com as equipes de projetos da operação brasileira, em que todos os envolvidos tinham espaço para falar sobre as tarefas em andamento. Isso imediatamente deu a sensação aos colaboradores de que todos seriam ouvidos. O foco das reuniões era que cada um contasse o que havia feito no dia anterior, o que deveria fazer naquele dia corrente e se, para isso, precisava de ajuda. Criou-se então um ambiente realmente colaborativo, em que todos podiam contribuir e compartilhar sua visão, experiência e conhecimento.
Dessa forma, as lideranças passaram a se tornar rotativas por projeto, com competências diversas e complementares sendo expostas a partir das experiências únicas de cada colaborador. O poder do gerente e a hierarquia se dissolvem no contexto dessa nova forma de trabalho, mas ganha-se muito em cooperação, produtividade e eficiência, ao mesmo tempo em que os talentos são valorizados, e não abafados como pode acontecer em empresas com culturas de poder mais rígidas.
Os clientes brasileiros e a equipe de profissionais da Rimini Street no Brasil passaram a sentir as diferenças entre as metodologias tradicionais e as ágeis, sobretudo no tempo levado para a conclusão dos projetos. Todos passaram a se envolver no dia a dia das atividades em andamento, contribuindo para que os testes e as correções de rota fossem implementados com mais dinamismo e rapidez. A resolução de problemas ganhou em agilidade e transparência. Mantivemos a qualidade dos serviços prestados, porém de maneira muito mais ágil e com escala, à medida que conquistávamos mais clientes.
Scrum reflete realidade atual, e não o passado – Uma das grandes diferenças do scrum em relação às metodologias tradicionais de trabalho é a capacidade de refletir o momento atual, a vida como ela é, com seus conflitos e imprevistos. Em projetos tradicionais, os gerentes passam muito tempo planejando e definindo cronogramas em planilhas e apresentações em PowerPoint que raramente refletem a realidade. As metodologias tradicionais estão sempre atrasadas e defasadas em relação ao que está acontecendo na vida prática. Gasta-se um longo tempo planejando e então, na hora de executar o plano, os desafios já são outros e todo o tempo e trabalho empregados foram simplesmente desperdiçados.
No scrum, temos liberdade e flexibilidade para planejar até – no máximo – onde se pode enxergar, planejar além disso é improdutivo, pois perde-se a noção da realidade e dos imprevistos que podem acontecer. A ideia é partir para a execução e realizar testes o mais rápido possível, para validar o que está no caminho certo e o que tem que ser revisto e alterado. Na Rimini Street, realizamos sprints (ciclos curtos de desenvolvimento) e já observamos os resultados, ajustando o curso se necessário. Também compartilhamos informações que aprendemos no processo com os clientes: um exemplo são webinars que realizamos, por projeto, para informar aos clientes o que iremos entregar e receber seus feedbacks.
O scrum foi feito para ser simples – O mais interessante dessa metodologia é que ela prioriza a simplicidade e a flexibilidade para que cada companhia encontre seu próprio modelo. Sob essa ótica, as interações e as formas de colaboração entre as pessoas que integram um projeto são mais importantes do que as formalidades corporativas e a hierarquia, como dissemos anteriormente. A empresa que almeja aderir ao scrum em busca de mais eficiência e sucesso nos projetos, tem que estar pronta para essa cultura de compartilhamento do conhecimento e do poder. Eu te convido a desbravar o mundo do scrum e se apaixonar por ele, assim como aconteceu comigo há alguns anos. Você e a sua empresa, certamente, não vão mais querer olhar para trás.
Por Silvia Gianisella, Gerente de Projetos Fiscais e Tributários na Rimini Street América Latina
*Imagem: Pixabay