Em uma recente passagem pelo Vale do Silício, foi possível vivenciar um ambiente estimulante, com a inovação sempre presente. Lá, o sucesso resulta de uma cultura empreendedora e colaborativa, com foco na resolução de problemas complexos por meio da tecnologia de ponta.
O apetite maior para abraçar o risco e a valorização de uma cultura de feedback contínuo que não crucifica o erro, mas aprende rapidamente com ele, são alguns dos “costumes” que fomentam a inovação e o crescimento sustentável. Seja na BAY Area (região que engloba os principais polos de inovação na Califórnia), ou em qualquer outro lugar, o diferencial está na capacidade de transformar desafios em oportunidades.
E de todas as grandes lições, quais podem ser aplicadas no Brasil? Compartilho aqui seis delas:
1) Não tenha medo de expor suas ideias: não há receio de que alguém possa se apropriar delas. As ideias são trocadas livremente, pois as pessoas entendem que, quanto mais discutem seus projetos, maiores são as chances de validá-los, obterem feedbacks, ou ainda conectarem-se com potenciais investidores ou até cofundadores. Esse processo cria oportunidades valiosas para acelerar o desenvolvimento da ideia, uma vez que agrega habilidades essenciais para seu sucesso.
2) Foque em grandes desafios: a maioria das pessoas presentes ali estudam e trabalham em iniciativas de grande impacto, com alcance global. Ideias que realmente possam mudar ou revolucionar a forma como as coisas funcionam. O mindset é ambicioso, sempre voltado para o “Moonshot” — um termo usado para se referir a ideias grandiosas, quase como um “tiro na lua”.
3) Não crie um produto, construa uma indústria: A disrupção geralmente ocorre quando uma solução inovadora surge para resolver um problema ou atender a uma necessidade existente, transformando a maneira como lidamos com aquela questão. Exemplos disso são as redes sociais, que revolucionaram a forma como as pessoas interagem, passam o tempo e acessam informações, conferindo maior poder de decisão ao público. Outro caso é o Uber, que revolucionou seu setor criando um modelo de ride-sharing através de uma plataforma de tecnologia, impactando o modelo tradicional de táxis, sem ser uma empresa de transporte.
4) Vá para a rua entender o seu cliente: Ainda é muito comum observar empresas tomando decisões em suas salas de reuniões e sem antes “irem para a rua” para entender as reais necessidades de seus clientes. Isso não se aplica apenas no lançamento de um produto ou solução; essa abordagem é válida para qualquer fase ou etapa de um negócio.
Nesse contexto, é pertinente citar Steve Blank em seu livro The Four Steps to the Epiphany: “Não existem fatos dentro do seu prédio, então vá para fora.” Em vez de criar produtos com base em suposições, ele argumenta que os empreendedores devem sair e testar suas ideias diretamente no mercado.
5) Não tema criar soluções para outras indústrias A maior parte das grandes transformações no mercado foram originadas por players que não atuam especificamente na área. A Apple construía computadores e revolucionou a indústria da música com o lançamento do Ipod e do Itunes, além de entrar na indústria de telecomunicações com o IPhone, redesenhando completamente esses mercados.
A Amazon começou como uma livraria online e revolucionou o varejo global ao expandir o mercado eletrônico e inovar na logística. Anos depois, entrou no setor de nuvem com a AWS. Já o Airbnb transformou a hospitalidade ao criar uma plataforma que conecta proprietários a hóspedes, sem construir um único hotel. Esses exemplos mostram que focar apenas nos concorrentes diretos é arriscado, pois a disrupção pode surgir de onde menos se espera. Apaixonar-se pelos problemas que deseja resolver e ampliar seu repertório técnico e de negócios permite uma visão inovadora para transformar seu setor.
6) Aposte em IA, é a nova corrida do ouro: Todas as empresas que visitei estão voltadas para inteligência artificial. Estar presencialmente naquele lugar reforça que o futuro está muito mais perto do que se imagina. Aliás, ele já chegou. Isso foi exemplificado em um centro de robótica onde foi possível aprender sobre diversos modelos de robôs avançados que, muito em breve, começarão a ser comercializados. Neste sentido, discussões profundas sobre ética, proteção de dados, impacto no mercado de trabalho e até sobre as interações humanas precisarão estar frequentemente em pauta.
O mercado de tecnologia vive uma nova revolução, um cenário que exige reinvenção constante, visão ousada e confiança na capacidade de transformar o mundo. Por isso, é necessário adotar um mindset atento às mudanças em andamento, assumindo um papel ativo nesse processo. Com conhecimento e protagonismo, é possível acompanhar essa evolução e atuar como agentes significativos dessa transformação.
*Por Rodolfo Alfaro
*Rodolfo Alfaro é Head of Agile Development na NAVA Technology for Business