A Era da Inteligência Artificial: uma jornada desde Asimov até o ChatGPT

Giovanni La Porta, cofundador da Framework Digital
Imagem: divulgação

A Inteligência Artificial está sendo considerada a nova onda tecnológica. No entanto, o que ela realmente é? De acordo com a maioria dos especialistas, a primeira coisa que precisamos fazer é contextualizar a pergunta e reformulá-la para: “Como definir IA no contexto dos anos 2020?”.

Para a grande maioria das pessoas, até mesmo aquelas envolvidas com tecnologia, a IA é percebida como uma “novidade”, que promete uma revolução. Contudo, o termo “novidade” não captura adequadamente a realidade. Os conceitos e até mesmo as implementações computacionais, relacionadas à IA, surgiram décadas atrás.

Desde o início da década de 1950, a Inteligência Artificial tem sido uma disciplina científica ativa. Os estudiosos concordam que o surgimento dela se deu com as três Leis da Robótica de Asimov, em 1942, seguida por sua primeira aplicação no Teste de Turing, em 1950.

O período entre 1956 e 1973 é considerado a “Era de Ouro da IA”, sendo marcado pelo desenvolvimento dos mais importantes algoritmos e pela aparição das primeiras implementações significativas, como o SHRDLU e Shakey, o robô.

O mundo estava entusiasmado com as novas possibilidades, mas os recursos computacionais da época eram limitados, assim como os bancos de dados e a conectividade. Então, subitamente, a Inteligência Artificial perdeu seu apelo científico, entrando no chamado “Grande Inverno da IA”.

De 1973 a 1980, praticamente, não se falava em Inteligência Artificial e o assunto foi arquivado. No entanto, com a chegada do boom tecnológico da década de 80, tudo mudou. Os computadores começaram a deixar os laboratórios e a se tornarem cada vez mais presentes nos lares das pessoas. Eles se tornaram mais rápidos, podiam armazenar mais dados e até mesmo se comunicarem entre si.

Novos algoritmos surgiram e, em 1996, o mundo foi sacudido pelo Deep Blue, o supercomputador capaz de jogar xadrez. Em fevereiro daquele ano, Garry Kasparov, campeão mundial de xadrez, considerado o melhor jogador de todos os tempos, ganhou três partidas, empatou duas e perdeu uma contra o Deep Blue. O resultado foi um grande feito para uma máquina.

Em maio de 1997, após uma significativa atualização, o Deep Blue venceu Kasparov em um novo confronto de seis partidas. Foram duas vitórias, três empates e uma derrota, tornando-se o primeiro computador a vencer um campeão mundial de xadrez em um torneio oficial. Esse evento foi crucial para demonstrar que era possível criar uma máquina capaz de superar um humano em seu próprio território: de pensar e tomar decisões.

A corrida para desenvolver máquinas inteligentes recomeçou, e as grandes corporações perceberam que investir em pesquisa de Inteligência Artificial seria a chave para um futuro competitivo.

Com a chegada dos anos 2000 e o medo apocalíptico do Bug do Milênio — que, no final, não aconteceu —, iniciou-se a era pós-milênio da IA. Foi nessa década, inclusive, que ocorreram grandes evoluções na interação entre homem e máquina. Lançada em 2010, a Siri, da Apple, já era capaz de falar múltiplas línguas em 2011.

O final da década de 2010 começou a indicar que os algoritmos de Inteligência Artificial, aliados a computadores potentes, realmente mudariam a maneira como veríamos o mundo a partir dos anos 2020.

No dia 30 de novembro de 2022, a OpenAI apresentou o ChatGPT e deixou o mundo atordoado com a novidade inesperada. O que era ChatGPT? Quem era a OpenAI? Até aquela data, ninguém sabia.

Subitamente, um programa era capaz de escrever como um humano e gerar textos, músicas, poemas, ensaios, artigos e muito mais, a partir de diálogos simples (prompts), utilizando uma linguagem natural (NLP). Além disso, poderia responder quase tudo, em qualquer idioma. Foi nesse momento que as pessoas finalmente compreenderam o que era a Inteligência Artificial.

Apesar de tudo ter começado há 80 anos e os algoritmos serem basicamente os mesmos, foi o ChatGPT que trouxe uma implementação real e estável do que chamamos de “Aprendizado de Máquina (Machine Learning)”. Em resumo, um supercluster de máquinas foi alimentado com bilhões de dados coletados da internet e, por meio de algoritmos, que evoluíram ao longo de décadas, esse supercomputador foi treinado com o conhecimento adquirido pela humanidade ao longo de milênios.

Por meio da comparação de padrões, ele foi capaz de entender as infinitas maneiras de formular uma pergunta e a melhor maneira de responder a essa questão.

Ao analisar bilhões de textos existentes sobre um determinado assunto, o supercomputador passou a ser capaz de combinar seus conteúdos e gerar novos conteúdos. A máquina também passou a aprimorar suas próprias criações, a partir de novos materiais inseridos em seu banco de conhecimento, em um aprendizado contínuo e retroalimentado.

Dessa forma, quando contextualizamos o que é a Inteligência Artificial para a década de 2020, podemos resumi-la segundo a combinação de quatro dimensões: pensar humanamente, agir humanamente, pensar racionalmente e agir racionalmente.

Embora o objetivo de alcançar a IA geral nesta e nas próximas décadas possa estar fora do alcance, o avanço dela é um fato, que irá impactar a vida de todos nós.

A forma como iremos consumir e produzir informação mudará em um curto espaço de tempo. Aprender a lidar com as novas relações de trabalho será um grande desafio.

O que sabemos até o momento é que uma nuvem de dúvidas e possibilidades paira sobre nós. No entanto, como já ocorreu com outras tecnologias, esta também vai se consolidar no momento em que estivermos maduros para utilizá-la.

*Por Giovanni La Porta, cofundador da Framework Digital


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