A tarifa linear de 50% sobre as vendas de produtos brasileiros nos Estados Unidos já afeta alguns setores produtivos nacionais. Mas causa mais preocupação o estudo da equipe de Macro Research do Banco Inter sobre o efeito que a reciprocidade tarifária pode causar aos setores produtivos.
Segundo cálculos da instituição financeira, se for aplicada uma reciprocidade, ou seja, o Brasil aumentar os tributos de importação de bens vindos da economia americana em 50%, o setor químico teria uma perda de 6,6% na produção e isso geraria um “efeito cascata” que afetaria 56 de 66 segmentos da indústria de transformação.
Além de corresponder por cerca de 11% do PIB da indústria de transformação, segundo o IBGE, e ser essencial para a manutenção da saúde e conforto das pessoas, já que os produtos químicos são usados na fabricação de medicamentos, utensílios médicos como seringas, bolsas para armazenamento de sangue, catéteres, no tratamento da água, entre outros. Os produtos químicos são essenciais para setores importantes que compõem o PIB nacional como o agronegócio, a construção civil e a indústria automotiva.
Presença dos produtos químicos na economia
Quando pensamos no papel da indústria química no agropecuário, muitas pessoas podem pensar em fertilizantes e agroquímicos e na ração. Mas produtos menos associados à agroindústria como o poliuretano (PU) e elastômeros também desempenham papel fundamental na produção agrícola e na recuperação do setor cuja produção subiu 12,2% no primeiro trimestre do ano na comparação com o quarto trimestre do ano passado, segundo o IBGE.
O PU é usado como isolamento térmico de aviários e galpões para reduzir o stress térmico dos animais, o que reflete no aumento da produção de ovos e carnes e no isolamento térmico dos tanques de leite. O produto também é usado em máquinas e equipamentos agrícolas o que ajuda a reduzir o peso, o tempo de montagem e oferecer mais conforto térmico e acústico aos operadores das máquinas.
Por ser um material mais maleável o elastômero de poliuretano substitui peças metálicas em equipamentos como colheitadeiras, o que possibilita proteger as plantações durante a colheita e evitar danos aos produtos. Por oferecem resistência superior a rasgos e rompimentos, mesmo sob condições intensas, esses produtos também são usados para fazer as buchas presentes em muitas máquinas usadas na agroindústria, além de ser empregado no revestimento de rolos e cilindros em esteiras transportadoras.
A indústria química também é fundamental para a construção civil, que teve um crescimento de 3,4% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o IBGE. Os produtos químicos, como o PU, aumentam a velocidade da construção e reduzem a necessidade de obras de alvenaria e proporcionam isolamento térmico, eficiência energética e conforto acústico.
Além de ajudar a reduzir o consumo de energia de residências e imóveis comerciais, produtos sustentáveis desenvolvidos pela indústria química e feitos com resíduos do agronegócio já podem ser encontrados em portas e painéis termoacústicos, o que também contribui para aumentar a sustentabilidade da obra e do imóvel.
O setor automotivo, que teve uma alta de produção de 7,6% no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), é um dos principais parceiros da indústria química. Há décadas os polímeros desenvolvidos pela indústria química substituem materiais como metais e vidro com o objetivo de melhorar a segurança, reduzir o peso dos componentes e aumentar a velocidade de produção.
Os polímeros da indústria química são mais fáceis de moldar o que possibilita atender às necessidades das montadoras e permite à indústria automotiva inovar no design das peças e dos veículos. O poliuretano (PU), por exemplo, é usado na composição do estofamento de bancos, para-choques, volantes, painéis das portas, manoplas de câmbio, no isolamento térmico do teto, além de ser usado para fazer a vedação em peças como filtro de ar e de óleo.
Economia resiliente precisa da indústria química
Além da sua própria contribuição com a economia e com a balança comercial, a indústria química é fundamental para setores que contribuem com o PIB e com a balança comercial. A indústria automotiva, por exemplo, foi um dos setores que mais contribuiu nas Exportações de Bens e Serviços no primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE. E, os números da Anfavea mostram que as exportações de veículos cresceram 59,8% no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano passado.
Apesar de algumas linhas do setor químico estarem em crescimento, por meio de investimentos na inovação e desenvolvimento de produtos feitos a partir de matéria-prima de base renovável, de forma geral os produtos químicos de uso industrial enfrentam uma situação delicada. No primeiro trimestre de 2025, a indústria de química brasileira registrou seu pior desempenho em mais de três décadas, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). A taxa média de utilização da capacidade instalada caiu para 62% e a produção recuou 3,8% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Parte disso acontece, pois o setor paga por insumos 5 a 7 vezes mais do que em outros países. Além disso são necessárias reformas estruturantes que contribuam para reduzir custos de energia e de logística, que são essenciais para a indústria química. Apesar de não ter sido elaborado com esse objetivo, o estudo do Banco Inter reforça a importância dos produtos químicos para toda a indústria de transformação e para a economia nacional.
Escrito por: Wander Pascini da Silveira
Wander Pascini da Silveira, Head de Desenvolvimento Técnico do Grupo Flexível