Se a aprendizagem fosse a Liga da Justiça, a IA seria o Flash

Luiz Alberto Ferla
Imagem: Divulgação / Luiz Alberto Ferla / DOT Digital Group

A Inteligência Artificial (IA) tem roubado a cena nas empresas, nas escolas, nas rodas de conversa e na mídia do mundo inteiro. Apesar de os primeiros passos da IA terem sido dados ainda na década de 1940, a febre atual foi desencadeada pelo lançamento do ChatGPT. E é preciso admitir que mesmo os profissionais experientes do universo da tecnologia se surpreenderam com as respostas dadas pelo robô da OpenAI.

 A adoção da IA generativa parece inescapável em todos os setores do conhecimento e, consequentemente, da economia. Na área de educação e, especialmente, da educação corporativa, a AI deve ter um enorme poder de transformação. É sempre importante lembrar que uma ferramenta de IA é tão eficaz e benéfica quanto a qualidade de dados da qual ela se alimenta. Ou seja, é preciso ter critério e segurança sobre fontes de conhecimento de onde os robôs extraem informações e dos modelos em que são treinados.

Um dos aspectos mais extraordinários da IA na educação é a possibilidade de termos, em um futuro não muito distante, uma espécie de “super professores”. Eles não só dominarão a área de conhecimento que ensinam, mas também terão uma capacidade incansável de trabalho e, o melhor, serão capazes de identificar precisamente as deficiências que travam o aprendizado de cada um de seus alunos. 

A combinação de especialistas em educação com a capacidade de processamento incansável das máquinas de IA – munidas de bancos de dados gigantescos, com todo tipo de conhecimento, e treinadas em modelos relativos ao aprendizado humano – deve abrir caminho para um ensino realmente personalizado, como se cada aluno tivesse um “professor particular” especialista em cada curso que faz.

Imagine que este tipo de professor, além de diagnosticar os problemas de cada um de seus alunos, seja capaz de sugerir conteúdos e em diferentes formatos: vídeos, textos, fotos, podcasts, jogos, tudo pensado para que eles possam entender e superar exatamente os pontos que têm dificuldade. Sem contar que o professor fará isso tudo sem alardes constrangedores na frente de outros colegas da turma. 

Hoje, a tecnologia já vem revolucionando a educação na forma e no conteúdo, o que inclui o treinamento e desenvolvimento (T&D) profissional. Muitas empresas já descobriram que o ensino a distância (EaD, ou o T&D online, pode ter muito mais qualidade e eficácia do que o presencial. A constatação surpreendeu muitos diretores de gestão de pessoas que, durante a pandemia, foram forçados a treinar remotamente contingentes inteiros de colaboradores. Eles descobriram que inúmeras ferramentas, muitas já disponíveis, mas pouco usadas, são capazes de potencializar o treinamento e aumentar a eficiência de suas empresas. 

A possibilidade de colocar o melhor especialista para falar com funcionários do país inteiro ao vivo, em um vídeo gravado, em um podcast ou ainda transformar esse conteúdo em um  game, deixou muitos profissionais de RH maravilhados. Sem contar que o emprego de recursos como a realidade virtual, que permite que um trabalhador rural faça um treinamento imersivo de manutenção de trator com óculos 3D, também vêm ajudando a democratizar a qualificação, quebrando barreiras geográficas.

Considerando que isso tudo já é possível, a adição da IA à educação corporativa vai provocar um salto extraordinário de produtividade e competitividade dentro das empresas. Os debates sobre a utilização da IA são legítimos e necessários, mas, pelo histórico da humanidade, não há como deter o avanço da tecnologia e da engenhosidade humana. 

Assim como a popularização da internet ao redor do planeta nos anos 2000 transformou o mundo em poucos anos, mudando a maneira como as pessoas produzem bens e serviços, como se comunicam, consomem, divertem-se e trabalham, a aposta é que a chegada da IA nas mãos dos indivíduos e das organizações vai desencadear uma nova onda de transformações econômicas, comportamentais e sociais em escala igual ou ainda maior.

Diante disso, o melhor a fazer é acompanhar de perto não só a evolução da tecnologia, mas as possibilidades de sua aplicação e seus consequentes efeitos positivos e negativos nas diversas áreas do conhecimento. Não é uma tarefa fácil e, para alívio de engenheiros, educadores, médicos, psicólogos, matemáticos e outros inúmeros tipos de profissionais, exige estudo, pesquisa, análise e reflexão de humanos. Sim, nós, profissionais humanos, teremos muito trabalho para aproveitar as maravilhas propiciadas por essa tecnologia e também criar os remédios para os efeitos colaterais que ela pode provocar.

Será preciso acompanhar e avaliar, por exemplo, como o cérebro humano se comportará ao longo do tempo ao receber respostas de maneira tão instantânea. Pode ser um alívio pensar que não precisamos mais guardar fórmulas aparentemente inúteis para chegar a respostas que, de fato, nos interessam. Mas será que não foi justamente o processo de elaboração dessas fórmulas, pesquisas, observações, tentativas e  erros  que treinaram o cérebro humano  a funcionar de maneira capaz de resolver problemas e, por fim, ajudou a elevar o conhecimento humano? E será que o uso inadequado da tecnologia e, especialmente da IA, não tornará nossos cérebros preguiçosos e sedentários, provocando um efeito limitador diametralmente oposto à expansão da inteligência humana?

Ainda não há respostas para todas as perguntas, mas os profissionais, as empresas e até os governos que estiverem mais atentos e souberem aproveitar os benefícios da IA se tornarão mais competitivos. 

*Por Luiz Alberto Ferla, fundador e CEO do DOT Digital Group.

 


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