Agências de fomento, fundos de investimento, empresas privadas e até estatais estão de olho em inovações das startups brasileiras. Entenda os caminhos para dar visibilidade para projetos inovadores
Apesar dos olhares atentos de investidores estrangeiros no Brasil, não é só com o dinheiro de fora do país que as empresas estão conseguindo crescer. Agências de fomento, fundos de investimento, empresas privadas e até estatais também estão de olho em inovações dos empreendedores brasileiros.
A Unidroid, startup que fornece soluções robóticas, é um desses exemplos, a empresa participou e venceu recentemente um edital para fornecer tecnologia para a Petrobras, a maior estatal brasileira.
Os empreendedores de São José dos Campos (SP) participaram do programa Conexões para Inovação – modulo Startups, e agora estão em fase de implementação para a Petrobras de uma linha de robôs de combate a incêndios, buscas e salvamentos, resgates e inspeções em áreas e situações de risco.
“Nós tínhamos praticamente pronta a solução que eles precisavam. Estávamos prontos no momento da necessidade deles. Alguns chamam isso de sorte”, diz José Carlos, diretor de engenharia da Unidroid.
Além de toda a tecnologia de vídeo, controle e segurança, os robôs da Unidroid são ultra resistentes ao calor, impactos e ao tempo, podendo trabalhar por muitos anos. Com esses atributos, eles protegem a vida, já que deixam as equipes da brigada de incêndio fora do perigo e são operados a até 300 metros de distância.
Fernanda Morelli, CEO da Unidroid afirma que é muito importante não perder oportunidades quando se está buscando investimentos. Ele ressalta que é necessário procurar entender os mercados pretendidos e “fazer a lição de casa”.
“Diplomacia, contatos e inteligência na hora de buscar quem pode ser parceiro de negócios é fundamental. A serendipidade ajuda imensamente quando se está no caminho certo. Mostrar sua inovação nos EUA, por exemplo, é bem mais simples porque um Power Point bem-feito pode te trazer milhões de dólares em investimentos. Aqui no Brasil mesmo com um bom MVP, governança, CNPJ, protótipo pronto, testado, funcionando e aprovado, pode ainda ser um baita desafio conseguir um bom investidor, que traga mais do que dinheiro”, ressalta Fernanda Morelli.
“O brasileiro é um povo que tem que se adaptar o tempo todo a um novo momento. Por causa disso, ele corre atrás e abraça as oportunidades que aparecem. Essa resiliência permite que nós corramos atrás dos objetivos e sigamos batendo nas portas mesmo após várias negativas. Buscar investimentos é assim e exige essa força de vontade e a crença no próprio trabalho e projeto”, comenta Jennifer Chen, conselheira e sócia da Unidroid, além de especialista em conexões entre grandes empresas e investidores e CEO da JC Capital, companhia que atua no mercado nacional e internacional através da captação de recursos.
Potencial para investimentos
A despeito das crises políticas e econômicas, o Brasil segue sendo um dos principais destinos dos investimentos do exterior. De acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Banco Central (Bacen), no primeiro trimestre de 2022 o país foi o quarto principal destino do dinheiro dos investidores.
Segundo o Bacen, o Brasil recebeu US$ 27,88 bilhões em investimentos estrangeiros nos três primeiros meses deste ano. Para se ter uma ideia, somente China (US$ 101,91 bilhões), Estados Unidos (US$ 66,91 bilhões) e Austrália (US$ 59,31 bilhões) ficaram na frente.
Para mostrar como as inovações brasileiras estão na mira do mundo, no ano passado os estrangeiros aportaram US$ 46 bilhões em investimentos diretos no país, o que representou um aumento de 22,9% na comparação com 2020.
“O empreendedor brasileiro é tipicamente otimista, criativo e flexível, principalmente por causa das circunstâncias socioeconômicas que a gente vive. Além disso, temos uma diversidade cultural muito grande, o que ajuda na mistura de referências e ideias. Por estes e outros fatores que os empreendedores locais estão sempre inovando e sendo observados pelo mundo”, afirma Jennifer Chen.
Ela diz que antes da pandemia, áreas como o real state estavam em alta e atraindo o dinheiro. A especialista cita o mercado de construção civil de alto padrão, de programas sociais como o Minha Casa Minha Vida e habitações para estudantes como setores que vinham numa crescente.
Neste período de pós-pandemia, a especialista defende que os investidores seguem mirando o mercado imobiliário, já que a configuração das cidades foi transformada, uma vez que muita gente se mudou dos grandes centros por causa da possibilidade de trabalhar 100% de maneira remota. As healthtechs, que aprimoraram soluções de telemedicina, por exemplo, edutechs e fintechs também estão se destacando no cenário.
“Com a Guerra da Ucrânia impactando principalmente a questão dos fertilizantes, os investidores estão olhando com bastante atenção para o agronegócio brasileiro. As startups do agro que estão desenvolvendo soluções para aumentar a produtividade estão se destacando neste quesito”, acrescenta.
Caminhos para mostrar as inovações ao mundo e captar recursos
Chen explica que são vários os caminhos para que empreendedores mostrem ao mundo suas ideias. Ela cita programas de inovação como o Sebrae Like a Boss e o StartOut Brasil, programas que oferecem cursos online gratuitos, mentorias, capacitação para os negócios e mais.
Além da integração com esses ecossistemas voltados para a promoção de inovações, é essencial a participação em eventos como o Web Summit, que é a maior conferência da Europa em tecnologias e que oferece atividades online como palestras.
A especialista cita ainda mais dois aspectos importantes para quem quer dar visibilidade para o próprio empreendimento. Ela salienta que a participação em hubs de open innovation, como o Ibrawork, que conectam startups com o mercado nacional e internacional, e a consultoria também são essenciais.
Como exemplo disso, foi por meio da participação e vitória em um concurso promovido em evento do Ibrachima (instituto ligado ao Ibrawork) que a Unidroid teve a oportunidade de iniciar a internacionalização de seus produtos como expositores na Gitex Dubai 2022.
“São necessários alguns passos antes de sentar-se com os possíveis investidores para tentar a captação de recursos. A empresa precisa fazer o valuation correto, é preciso verificar o contrato social com os sócios, para analisar se não há nenhum processo, por exemplo, realizar o due diligence etc”.
O trabalho realizado por consultores não pode ser dispensado porque é muito comum que principalmente iniciantes não saibam as condições da própria empresa, lembra Chen. Ela defende que consultores não deixam somente a “casa arrumada”, mas também ajudam os empreendedores a entender as próprias necessidades.
Quando um negócio busca dinheiro junto às agências de fomento, bancos, investidores anjo, outras empresas e mais, o empresário precisa saber se ele está captando recursos que serão destinados para capital de giro ou expansão, por exemplo. Feito corretamente, o diagnóstico levará para um próximo e importante passo.
“Depois que um consultor entendeu tudo sobre o negócio do cliente que está atendendo, nós passamos para a fase de montar um pitch deck para apresentar aos possíveis investidores. Eu digo que ele precisa estar incrível, tanto na parte visual quanto no conteúdo, com números e tudo mais. Investidores recebem diversos pitch decks todos os dias, então não é possível fazer brilhar os olhos sem um documento completo que indica a maturidade e conhecimento do próprio negócio”.
*Imagens: Divulgação / Unidroid