Durante décadas, o feedback foi tratado como uma formalidade: uma reunião marcada, documentos preenchidos, um ritual que mais servia para encerrar ciclos do que para impulsionar aprendizados. Esse formato engessado criou uma cultura em que o feedback se tornou sinônimo de julgamento, e não de evolução. A conversa acontecia tarde demais, quando as decisões já haviam sido tomadas e as oportunidades de melhoria tinham se perdido pelo caminho.
Mas o que acontece quando o feedback deixa de ser um evento isolado no tempo e desconectado do contexto e passa a ser parte do cotidiano? A resposta está na cadência. Quando as organizações adotam um ritmo estruturado e frequente de conversas, elas transformam o ato de avaliar em algo natural e contínuo. A troca se torna menos sobre “corrigir” e mais sobre “ajustar”. O foco sai do passado e se volta para o que pode ser aprimorado agora.
Essa regularidade muda a relação entre líderes e equipes. O colaborador passa a entender o feedback como uma bússola, e não como uma sentença. Ele sabe onde está e qual direção seguir, com base em evidências recentes e em metas claras. O gestor, por sua vez, ganha um espaço legítimo de escuta e orientação, capaz de construir confiança em vez de medo. O diálogo se torna mais curto, direto e produtivo, o tipo de conversa que impulsiona o desempenho, e não o paralisa.
A grande virada é que o feedback, quando recorrente, deixa de ser sobre pessoas e passa a ser sobre o trabalho. As trocas se ancoram em entregas, processos e resultados, e não em impressões ou memórias seletivas. Isso reduz vieses, melhora a objetividade e cria um terreno mais justo para discutir desempenho. A clareza dos fatos elimina ruídos e abre espaço para conversas mais profundas sobre comportamento e colaboração.
Esse novo olhar exige disciplina. Criar uma cadência de feedback não é apenas marcar reuniões no calendário, é cultivar um hábito organizacional. É entender que desenvolvimento acontece em pequenos ajustes, semana após semana, não em avaliações anuais que tentam resumir um ano inteiro em poucas horas. O verdadeiro progresso vem da repetição: observar, refletir, dialogar, aplicar e repetir.
Empresas que abraçam essa lógica constroem uma cultura de aprendizado permanente. Elas não esperam o fim do ciclo para corrigir o rumo, porque o ciclo nunca termina. A cada interação, líderes e equipes aprendem um pouco mais sobre como trabalhar melhor juntos. No fim, a cadência estruturada de feedback não é sobre controle, é sobre confiança. E é essa confiança que sustenta organizações que aprendem rápido, evoluem constantemente e mantém sua relevância em um mundo que muda o tempo todo.
Escrito por: Pedro Signorelli
Pedro Signorelli é um dos maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKRs. Já movimentou com seus projetos mais de R$ 2 bi e é responsável, dentre outros, pelo case da Nextel, maior e mais rápida implementação da ferramenta nas Américas.