Os ciberataques evoluíram, mas a falha humana continua a ser o elo mais fraco na cibersegurança

Ataque hacker
(Imagem: Falando Tech)

De cada R$ 100 gerados pela economia brasileira, R$ 18 são consumidos direta ou indiretamente por falhas de cibersegurança. Esse número, divulgado pelo Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime (INCC), evidencia o que muitas lideranças ainda ignoram. O impacto da cibercriminalidade ultrapassou os limites técnicos e passou a representar uma ameaça concreta ao desempenho econômico, à estabilidade operacional e à competitividade das empresas. Apenas em 2024, as perdas somaram cerca de R$ 2,3 trilhões e resultaram na eliminação de mais de 2,5 milhões de empregos, segundo o INCC.

Não se trata apenas de vulnerabilidades em sistemas. O que está em jogo é a forma como muitas organizações estruturam sua gestão de risco. Ainda é comum empresas tratarem segurança da informação como uma questão exclusiva do time de tecnologia, sem conexão direta com as prioridades estratégicas. Essa abordagem desintegrada compromete a capacidade de reação e enfraquece o posicionamento da empresa diante de ameaças cada vez mais sofisticadas.

Mesmo entre aquelas que já investem em soluções robustas, os riscos permanecem. O problema muitas vezes está nas práticas cotidianas que escapam da supervisão. Senhas compartilhadas, permissões de acesso amplas demais, uso inadequado de ferramentas baseadas em inteligência artificial e ausência de diretrizes sobre dados sensíveis, abrem brechas silenciosas. A origem do problema não está apenas na infraestrutura. Está no comportamento.

A DataRain estima que 74% dos incidentes cibernéticos sejam causados por falhas humanas. Essa estatística reforça que nenhuma ferramenta tecnológica é capaz de compensar a ausência de uma cultura organizacional voltada à segurança. Sem conscientização, as soluções perdem força. Sem liderança comprometida, os riscos se espalham.

O Brasil enfrenta um paradoxo relevante. Nosso país é referência global em inovação no setor financeiro, com iniciativas como o PIX e um dos sistemas de Open Banking mais avançados do mundo. Ao mesmo tempo, figura entre as nações mais visadas por cibercriminosos. Dados da Brasscom indicam que, só em março de 2025, 38% da população foi alvo de fraudes digitais. No ano anterior, o custo médio de uma violação de dados chegou a 1,36 milhão de dólares por empresa.

A Brasscom também aponta que o país ocupa hoje a 12ª posição no mercado global de cibersegurança e deve investir mais de 104 bilhões de reais entre 2025 e 2028 para correr atrás desse problema. O crescimento em relação ao ciclo anterior é expressivo, mas investimento financeiro sem mudança de postura tende a ser ineficaz. Segurança não se impõe apenas com sistemas. Exige atitude estratégica e mobilização de toda a organização.

Entre pequenas e médias empresas, o cenário é ainda mais delicado. Segundo o INCC, o impacto anual da falta de segurança digital nesse segmento ultrapassa 1 trilhão de reais. Para negócios com estrutura mais enxuta, um único incidente pode comprometer contratos, bloquear operações, gerar disputas judiciais e afetar permanentemente a imagem da marca.

Diante desse contexto, é urgente reposicionar a segurança da informação dentro da lógica empresarial. Em vez de limitar a inovação, ela deve ser vista como a base para o crescimento sólido e responsável. Empresas que reconhecem essa necessidade adotam políticas claras, treinam suas equipes, monitoram riscos e inserem o tema na agenda da liderança executiva.

Delegar a proteção de dados exclusivamente à tecnologia é ignorar a principal fonte de vulnerabilidade. O elo mais fraco raramente se concentra na “máquina”. Está, na maioria das vezes, na falta de preparo, na ausência de cultura e na baixa percepção de risco. E isso pode ser mudado, desde que o compromisso seja real.

Saule Feversani

Escrito por: Saule Feversani

*Saule Feversani é executivo de contas da Gateware


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