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*Por: Cláudio Aurélio Hernandes e Marcos José Valle
O uso consciente da Inteligência Artificial requer mais do que o domínio de suas ferramentas e aplicações. É essencial uma base sólida de conhecimento para avaliar criticamente as respostas que ela fornece, pois confiar cegamente em seu conteúdo pode levar a equívocos e decisões precipitadas. A IA gera textos bem estruturados e estilisticamente coerentes, mas carece de senso crítico, interpretação subjetiva e aprofundamento conceitual. Esses são atributos exclusivos do ser humano, desenvolvidos por meio da experiência, da reflexão e da interação com fontes confiáveis de conhecimento.
Há uma ideia de que as respostas geradas por IA, quando submetidas a um processo de curadoria, ganham status de conhecimento válido. Contudo, essa interpretação é equivocada. A curadoria implica na seleção de conteúdos previamente elaborados, de autoria definida e validados por critérios estabelecidos, como ocorre em publicações acadêmicas e livros editados. Ainda que os significados sejam próximos em alguns contextos, não são exatamente sinônimos.
A curadoria organiza e seleciona materiais reconhecidos como confiáveis. Pode envolver um olhar crítico e especializado, mas não implica necessariamente um julgamento formal sobre a veracidade ou qualidade técnica do material. No campo do conhecimento consolidado, a validação se dá pelo crivo de especialistas e pelo rigor metodológico, garantindo que as informações sejam testadas, verificadas e não refutadas. Temos aí algo mais próximo de um processo científico com maior compromisso com a verdade.
No caso da IA generativa, o processo deve ocorrer inversamente: antes de selecionar e utilizar qualquer resposta, é necessário avaliá-la e validá-la, assegurando sua precisão, coerência e confiabilidade. A interação com a IA exige um olhar crítico, capaz de interpretar, contextualizar e corrigir possíveis inconsistências. O risco não está apenas na imprecisão das respostas, mas na ilusão de domínio do conhecimento, que pode levar à reprodução de conteúdo sem fundamentação teórica ou embasamento sólido.
O entusiasmo pelo uso da IA para suprir lacunas de conhecimento reflete uma tendência preocupante. Muitos recorrem a essa tecnologia não para aprofundar sua compreensão dos temas em estudo, mas para obter respostas rápidas e bem formuladas, sem o devido esforço intelectual. No ambiente acadêmico, isso se traduz na busca por desempenho artificialmente aprimorado, onde a preocupação com a apresentação do conteúdo supera o compromisso com a aprendizagem genuína. O verdadeiro conhecimento se constrói pela análise crítica, comparação de ideias e validação metodológica, princípios fundamentais da produção científica e intelectual.
A Inteligência Artificial é uma ferramenta poderosa, mas seu uso exige responsabilidade. Não basta confiar em sua capacidade de gerar respostas convincentes; é preciso submetê-las ao crivo do conhecimento consolidado, assegurando que a informação produzida esteja alinhada com a verdade, a lógica e o rigor metodológico. O pensamento crítico, desenvolvido a partir do estudo e da experiência, continua sendo o alicerce indispensável para a construção do saber.
(*) Cláudio Aurélio Hernandes é Mestre e Doutor em Administração e professor da Escola de Gestão, Comunicação e Negócios. Marcos José Valle é graduado em Ciências Econômicas, Mestre em Educação, Doutor em Sociologia e professor da Escola de Gestão, Comunicação e Negócios do Centro Universitário Internacional UNINTER.
*Fonte: UNINTER